O imunologista e coordenador de pesquisas de vacinas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Gustavo Cabral de Miranda, que atua no desenvolvimento de imunizantes contra o coronavírus, zika e chikungunya, acredita que um alinhamento nacional nas ações de enfrentamento a pandemia seria o melhor caminho para conter a pandemia da Covid-19.
“Não adianta buscar, ter ações individuais dos Estados, achando que isso vai gerar resultados no controle da pandemia. Quando falamos de pandemia, falamos de planeta. Não podemos nos responsabilizar pelo planeta, mas podemos pela nação. Uma ação de um Estado individual, que não segue orientações nacionais, tende a isso. Mesmo que tenha controle inicial, a pandemia tende a retornar até mais forte”, justifica o imunologista.
Em entrevista, Cabral de Miranda lembrou que a arma mais eficiente contra doenças infectocontagiosas é a vacina, que é responsabilidade do Ministério da Saúde através do Plano Nacional de Imunização (PNI). “Ações individuais são extremamento precipitadas e políticas.” Ele alerta que a flexibilização é natural e deve sim acontecer. “Não através de promessas políticas, mas por orientação científicas. Se entrar em descontrole, no mês que vem a gente não volta para o distanciamento, mas para o isolamento. E a gente não quer lockdown.”
Gustavo também alertou para os riscos das variantes, como a delta. “No ano passado, falávamos em grupo de risco. Neste ano, toda a população já é. No Reino Unido e nos Estados Unidos conseguiram controlar a pandemia. Mas, com novas variantes dispersadas, eles estão dando um passo para trás. Isso nos alerta também. Precisamos ser cautelosos. O vírus não escuta nossas orientações, ele só se dispersa. Quando geramos abertura sem seguir pontualmente as orientações, a gente perde esse controle. É de extrema importância levar em consideração que a variante está aqui e, com o dispersar do vírus, podem surgir novas variantes que podem escapar parcialmente das vacinas”.
Para o imunologista, ainda é cedo para falar em terceira dose da vacina ou em uma segunda rodada de imunização a partir do ano que vem: “Quando a gente pensa em vacinação, a gente tem que seguir alguns preceitos básicos. A gente não pode lançar que vai ter terceira dose no meio de uma pandemia, onde boa parte da população desconfia da eficácia da vacina. As pessoas vão achar que a vacina não funciona bem. Campanhas desse tipo deixam as pessoas desconfiadas. Para pensar em terceira dose, precisamos de um dado básico: a durabilidade da eficácia da vacina. Nós não temos isso, ainda bem. Se tivéssemos, significaria que a vacina parou de funcionar”, explica.
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